segunda-feira, 25 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Graviola? Ou Morango?

É o vazio que dá valor às coisas! Não sei precisar qual dos 81 poemas do Tao Te Ching me lançou este trovão. Pena! Talvez todos. Ou outros mais! Vislumbro a casa alta e fortificada, o vaso lânguido e retocado, o porta-jóias brilhante e trancafiado, mas é o nada que neles habita que os valora! Cômodos a resguardarem os homens e seus corpos, espaços a conterem flores rosas e águas azuis, lugares a esconderem tesouros e corações. Sem o nada, nada seriam! É o vazio - repito! - que dá valor às coisas! Que é a casa, senão um agregado de tijolos e inteligências? Ou o vaso, senão um agregado de barro e talentos? E um porta-jóias!? Não seria um simples agregado de madeira e ourivesaria?
Toda a matéria se organiza em agregados! Tudo o que percebemos. Tudo o que julgamos. Até mesmo nossas faculdades do percepto e do juízo são agregados! Da nossa mais rasteira sensação aos nossos mais elevados ideais, de nossos planos mais grosseiros aos nossos estrategemas mais sutis, de nossos mais inconscientes segredos à nossa auto-imagem! Toda a existência é um simples agregado de causas e condições!
Foi o Buda em forma de livro quem me contou! Primeiro desconfiei. Depois acreditei. Logo após, vivenciei! Fez sentido em mim: fez-se semântica, direção e sensação. Vi e vivi o nada! O Buda me falou que tudo era - doce mantra que adoro pôr no ritornelo - simples agregado de causas e condições. E esta palavra, agregado, me in-comodou desde nosso primeiro encontro. Lembra-me sujeira, bagunça e movimento, três coisas que pouco me agradavam na ocasião. Até que me pús a cantarolar: "Sou um simples agregado de causas e condições." Vamos lá: falem, cantem e gritem comigo! EU SOU UM SIMPLES AGREGADO DE CAUSAS E CONDIÇÕES!!!
Longe de querer convencê-los pela repetição exaustiva, apenas confesso não poder re-presentar algo do plano da diferenciação criadora. Não é absorção do conhecimento, mas transbordamento de nossos sentidos no e para o outro. Não é osmose, mas sexo; não o gozar-virar-e-dormir, mas a secção-de-si, como constatação da finitude do onanista, como pura entrega de um amante a outro. O bom amante torna-se o outro! Realiza e realiza-se num conúbio sagrado. Agrega-se!
Agrega-se tal qual a graviola e o leite. A graviola, ambrósia dos deuses, e o leite, néctar das musas, unem-se para dar espaço a algo mais gracioso e divino que eles, enquanto partes puras. A graviola-com-leite! Tambores rufam, gritos são bradados, palmas viajam pelo ar... Desconfio, severamente, que o senhor-leitor-de-blogs não compartilha a mesma emoção que eu pelo casamento da Annona muricata com um sistema coloidal minero-lipo-proteico. Deveras! Não somos o mesmo agregado! O sentido - semântica ou significado, direção ou política, sensação ou desejo - da batida de graviola e leite é dado no modo como este agregado se acopla a um agregado outro. Tudo dado! Nada criado! Não há espontaneidade no agregado. Todos os dias sento numa lanchonete, olho o cardápio como que por etiqueta e, após alguns segundos de muda reflexão, profiro: "Suco de Graviola. E com leite!". Até o dia em que a estrutura do agregado rui...
O agregado-homem senta, percebe o novo menu da velha lanchonete e nota um agregado-suco a mais na lista de possibilidades: o Morango-com-leite! O homem sente-se abalado naquele momento, suas certezas cambaleiam, sua zona de conforto se afrouxa, seus alicerces se abalam. O mundo do homem ameaça ruir, pois uma dilemática se lhe apresenta. O território-de-si lhe parece - naquele momento - menor do que sempre foi. Ele caminha até as cercas e percebe - atônito! - que pode pulá-las! Transforma sua dor em problema existencial: Graviola? Ou Morango? E, neste jogo, já transcendeu sua forma atual! O agregado-homem, sempre funcionando identicamente a si mesmo, vaza criação pelos seus orifícios. Sai do movimento normal e tencionam diferir. Aproveita seus espaços vazios para criar. Criação de/com/para si e de/com/para o outro. Seja o outro uma fruta batida (com leite, saliento...), seu mais ardente amante ou o mundo em sua plenitude cósmica!
Conclamo os senhores, então, a serem buracos! Sejam vazios! Não se identifiquem com suas idéias, seus afetos, suas experiências! Mas, aviso, não vos convido à desconstrução plena do ego pensante. Só não se levem a sério demais! Um agregado não possui um valor em si, mas é o vazio que ele carrega que lhe valora! O homem não é uma predileção por tais e quais sabores, mas a opção que o mesmo tem de diferir do que lhe foi dado. O homem se identifica com a torneira estática quando, em verdade, ele é a água a fluir pelos espaços. Água da imensidão, incompreensível frente à pequenez dum copo de suco...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Feliz Aniversário!!!

Parentada reunida, brigadeiros e empadinhas à margem, um bolo ao centro. Crianças barulhentas, personas desconhecidas e aquela tia que não pára de palpitar. Bolas coloridas a murcharem na parede, pães-de-queijo-sem-recheio que se acumulam na travessa e uma música que - por ser ambiente! - não é apreciada por ninguém. Típico! O homenageado confessa: trocaria todas as honrarias por um pão-com-ovo e uma coca-cola-quente em companhia de seus chegados. Os únicos presentes que quereria de verdade! São estes os únicos que não lhe desejam Felicidades, Tudo de bom e Sucesso, imperativos categóricos e abstratos que - de tão gerais - nada significam! Não tocam! Já a música do amigo é pura intensidade, puro fluxo, pura melodia. Não há espaços para letras! Não há fórmulas, planejamentos ou estratagemas. O amigo não deseja nada. No máximo, aquela esperança egóica - mas olvidada - de que faça mais e mais anos. A música do amigo é silenciosa, para que o outro faça o que quiser dela. Um amigo não deseja nada ao outro: "Feliz isto, feliz aquilo!..." O amigo se cala pra deixar falar! Deixar que o outro mesmo escolha suas estradas, deixar que o outro mesmo se angustie com as bifurcações e deixar que o outro - mesmo! - se desespere pelos atalhos mal tomados. Mas ele - amigo-ombro-ouvido - está sempre lá. Não como placa no meio do caminho, a apontar certos e errados! Mas como a cereja no meio do bolo, que não se vai nem se esvai no ritual do primeiro pedaço! Os pedaços vão. Bolos inteiros vão. Mas a cereja, esta sim, fica! Cereja que nada deseja, além de ser a cereja de alguém...