domingo, 30 de agosto de 2009

O Escafandro e a Borboleta

Derrame. Paralisia. Desespero. Jean-Do, editor da Elle, é homem de imagens, aparências e movimentos que - inesperadamente! - se encontra enclausurado em sua própria carne. Escafandro! Seu pensamento quer ganhar o discurso; seus afetos, a ação; ambos querem correr, saltar e voar tal qual o verme melindroso a habitar o casulo. Borboleta! Longe das moralinas, o Sr. Bauby não faz de seu corpo frágil e indefeso um motivo justo para piedades e dramas afins. Afinal, não é a matéria que nos interessa - para longe com as quantidades! - mas os dois pilares que dão sentido à existência de nosso morimbundo: memória e imaginação! Com a primeira, fundamenta! É na memória que o corpo se liga ao passado, ao que já foi presente mas que - de alguma maneira - ainda é. Com a segunda, rompe! A imaginação é a quebra mesma dos esquemas pré-vistos e re-petitivos, lançamento rumo a um futuro que se faz no agora! O trampolim e o salto! E, mesmo na imobilidade débil de nosso agonista, vemos o seu tempo passar e passamos com ele. Passamos não rumo a um passado que já se desfez, mas a uma temporalidade perdida que ainda dura em nós. Vida! Jean-Do, mesmo sem corpo, é vida! É arte que não imita, mas produz! É movimento grácil, mesmo que em seu balé - belo, sôfrego e apaixonante - só hajam piscadelas...

Um comentário:

Felipe J. R. Vieira disse...

Por onde anda os outros textos? Ainda espero por muitas histórias que apareceriam exclusivamente nesta mídia.

Até mais!